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sábado, 14 de maio de 2016

Os meus trambolhões, eu e a fisioterapia







Em pequena, com a idade mais ou menos da foto, caia muito. Não sabia correr, nem trepar a árvores como a minha prima (nem nunca tentei). Tinha umas brincadeiras muito "femininas", como se dizia na altura, em que nitidamente havia brinquedos, cores e jogos distintos para raparigas e rapazes.






Um dia caí no caminho para a escola e lembro-me perfeitamente de não parar de sangrar. Chorei muito (berrei) com a ideia de ter de levar pontos, pois eu não fazia ideia do que era- só conhecia bordados, mas em tecido, não na minha perna. Derramaram-me um líquido (seria álcool?), que me ardeu muito e ainda chorei mais. Passou-me. Porém, fiquei com a marca, com grande consternação da minha mãe e avó, que queriam as minhas pernas perfeitinhas como quando vim ao mundo...




Devo ter caído mais vezes, pois a partir dos trinta anos a minha coluna começou a ressentir-se. A primeira vez que fiz fisioterapia foi em Ancara, Turquia e o tratamento assemelhava-se a uma tortura medieval: deitavam-me num aparelho com pernas e braços amarrados e depois o aparelho começava a esticar... era mais o medo que outra coisa e quando saia parecia ter crescido. Esse tratamento esteve em voga alguns anos. Verificou-se depois que provocava mais lesões do que vantagens e foi posto de parte.

Em Portugal, alguns anos mais tarde, ao pegar num saco de compras tive uma dor fortíssima e lá tive que fazer fisioterapia outra vez.




Quando vivia nos EUA, em 2001, estive pessimamente, também com um jeito qualquer que dei. Desta vez nem me podia mexer na cama nem vestir-me sozinha. Mostraram-me a diferença entre a posição correta da coluna e a minha... Além disso um disco ficou "obstruído". Tive meses a fazer tratamentos. Incluíram sobretudo quiropraxia e alguma acupuntura. O libanês, tido como perito nesta última técnica, tinha também uma filosofia relacionada com as diferentes partes do corpo e dizia que a coluna estava ligada aos nossos antepassados. Como a minha mãe tinha falecido em Lisboa, sem que eu tivesse podido viajar, ele fez logo essa ligação. Foi um momento bastante difícil, mas passou...







Só voltei a ter uma crise em 2013, quando tropecei na rua (estava de férias em Estocolmo) e ao agarrar-me a um varão fiquei dependurada pelo braço. No dia seguinte já me custava empurrar o carry on no aeroporto...






Pouco depois da minha chegada a Portugal tive hóspedes em casa durante 10 dias e a empregada estava de férias... Tinha dificuldade em mexer o braço esquerdo e o problema foi-se agravando. Já conduzia só com um braço e não conseguia estende-lo para pagar as portagens. As sessões de fisioterapia pareciam agravar a dor, até que uma colega da escola recomendou-me um médico que me fez um tratamento milagroso: duas infiltrações com corticoides. O efeito é quase imediato. Fiquei boa em pouco tempo e só lamentei o tempo perdido durante meses de fisioterapia...



A partir de 2014, os trambolhões começaram a ser mais frequentes. No principio desse ano, dei uma grande queda perto de casa. Tinha ido revelar fotografias e vinha devagar a observá-las, quando tropecei e fiquei estendida de barriga para baixo. Fiquei com o queixo e a boca inchados e pior que tudo os dentes cheios de alcatrão. Felizmente, consultei o dentista no próprio dia e saiu com uma limpeza o alcatrão incrustado nos dentes. Senti uma enorme humilhação. Este sentimento agravou-se quando um senhor de meia idade queria acompanhar-me até casa e dizia "quando vamos para a idade..." Ao chegar a casa, sozinha e ao ver o meu estado, chorei que nem uma Madalena... desta vez não precisei de fazer tratamento, simplesmente foi passando. Um mês depois os meus alunos de 10º ano descobriram quando fazia anos e fizeram-me uma festa surpresa. Tiraram-me esta foto e ainda se vê o queixo esfolado.




No final do ano, depois de ter começado a jogar bridge e a viver fora de Portugal voltei a ficar estendida no chão, na embaixada da Áustria, pois não reparei num degrau traiçoeiro. Fiquei com mais uma marca...



No entanto, a queda mais aparatosa que dei foi o ano passado, nos finais de agosto. Caí de costas nuns degraus do jardim e pensava que não me iria levantar mais. Além disso gritava e ninguém me ouvia, até que fui "salva" pelo meu genro. É claro que tive de comemorar o não ter ficado com qualquer lesão grave.

Até parece brincadeira, contudo no mesmo dia, quando estava a descansar no quarto, após um bom banho e massagens, resolvi vir até ao computador. Estava distraída, pois saltei um degrau e fui parar dentro da casa de banho, desta vez de barriga para baixo...

O problema é que em outubro, o braço com o qual me apoiei na queda de agosto começou a ter maus sintomas- não conseguia dormir voltada de lado...



Foi-me diagnosticada uma bursite, calcificação do ombro, tendinite e lesão do tendão super espinhoso. Ainda estou a fazer tratamento e já me sinto melhor.


Ontem, voltei a dar uma queda a descer uns degraus, à saída da festa do Paraguai - saltei o último - mas senti-me mais consolada. Não estava sozinha- o meu marido nem percebeu bem como aquilo aconteceu e não faltaram pessoas a me querer ajudar- talvez uns seis seguranças e umas meninas, que queriam que eu ficasse sentada a descansar- estou bem, só espero que o meu braço não venha a sofrer as consequências...





O médico que me assistiu aqui, no ano passado, recomendou-me fazer fisioterapia em Portugal, durante o natal, pois segundo ele os tratamentos são iguais em todos os países, exceto na China. Foi assim que em dezembro e princípio de janeiro deste ano fiz diariamente fisioterapia. Em Lisboa, naquele mesmo período, tentei mesmo osteopatia e mesoterapia homeopática, que me faziam efeito apenas no próprio dia. A terapia através de infiltrações, segundo os médicos consultados, está provado ser prejudicial. Desse modo excluí a ida ao médico, que me tratara anteriormente e também a fisioterapia perto de casa, que não produzira grandes efeitos no passado. Recomendaram-me um especialista em ombro e foi assim que fui parar à zona do Campo Pequeno, mais propriamente à Av. da República. A consulta era no 1º andar e os tratamentos no 7º.

Primeiro que tudo parece um caso insólito, mas não é...

Logo no primeiro dia em que toquei à porta do número indicado, o porteiro, sentado à secretária, abriu a porta e disse-me que os assuntos de tratamentos eram na porta ao lado. Agradeci, pois pensei que me enganara, mas não... tínhamos de entrar pela porta do cavalo e o uso do elevador também era distinto- os ditos doentes deveriam usar o elevador de serviço, onde só cabiam 2 pessoas, no máximo.

Acontece que este elevador estava avariado e, durante semanas, entravamos pela porta de serviço, dava-se a volta e íamos ter junto ao portão principal, onde estava sentado o porteiro e havia o elevador das, aparentes, elites moradoras no prédio.

Já perto do final dos tratamentos o elevador de serviço ficou de novo operacional; porém eu não sabia. Dirigi-me para o outro, como de costume. Qual é o meu espanto quando o porteiro diz: "o outro elevador está arranjado. Agora não podem usar este"; eu respondi-lhe: "desculpe, mas não vou dar novamente a volta, fica para a próxima vez". Não é que o porteiro teve o descaramento de dizer "Ai , não vais, não!". Sobe os degraus à pressa e vai ao quadro eléctrico apagar a luz!? Fiquei às escuras, contudo já tinha tocado no botão do 7º andar e por isso a tentativa de me boicotar a subida e procurar abrir violentamente a porta pelo lado de fora não resultou. Foi obrigado a ligar novamente o interruptor do quadro eléctrico e logo que o fez o elevador começou a subir. Nada disse ao homem.  Liguei ao meu marido para me vir buscar à porta, pois habitualmente esperava-me no centro comercial, onde estacionava o carro.

Ao chegar ao tratamento expliquei o sucedido e disse ir escrever uma carta a protestar ao médico e à administração. A fisioterapeuta ficou contente- as queixas do dito porteiro eram muitas, porque nunca ninguém se queixara formalmente. No mesmo dia escrevi a carta a dar conta do sucedido: nunca antes utilizara a "porta do cavalo" para fazer tratamentos e fora maltratada por um porteiro grosseiro e mal educado. No dia que reuni amigos e familiares para a minha despedida, houve unanimidade que deveria colocar no blog a carta que escrevi e lhes li. Só que depois julguei ser melhor esquecer o assunto e esperar por uma carta a pedir desculpas, que nunca chegou...

O próprio médico em Portugal deixou muito a desejar. Logo na primeira consulta duvidou do diagnóstico do colega, que eu consultara aqui e nem sequer olhou para as ressonâncias magnéticas- só viu o RX (tem idade próxima da reforma). Quando lhe disse que não gostava de fazer fisioterapia, sobretudo das conversas que ouvia, referiu-me que ali era outro ambiente comparado ao de Algés... viu-se. Tal como anteriormente, noutros tratamentos de fisioterapia, comecei a conhecer as pessoas pelas histórias que contavam... um taxista que dizia ter gorjetas de 500 euros com turistas que transportava a Sintra e outras menos divertidas relacionadas com o nosso espírito por vezes doentio de falar e falar das doenças. Afinal o ambiente nunca foi melhor ou pior do que em Algés...igual.

Aliás, fiquei muito mal surpreendida em ver e ouvir os funcionários tratar pelo nome próprio, sem empregar antes o "senhor" ou a "senhora dona" todas as pessoas, incluindo utentes com oitenta anos ou mais. Não era hábito português...

No dia que tinha a marcação, depois do tratamento, disseram-me que o médico não poderia afinal dar a consulta à hora marcada por qualquer impedimento. Disse que não me importava, pois ia continuar o tratamento noutro país...só queria pagar a conta... Note-se que a informação médica dos tratamentos prescritos só é dada no final de um ciclo de tratamentos com data da primeira entrevista/consulta com o médico. Assim, o cliente é obrigado a pagar mais uma consulta... e lá foram 650 Euros no total (sem contrato com o meu "seguro"). Ainda tive de ouvir uma "gracinha" relacionada com o elevador, pois, pelos vistos, o médico lera a carta.

Felizmente, aqui somos tratados em gabinetes privados. Não se é obrigado a ouvir as conversas dos outros. Por outro lado, a parte da massagem é mais confortável, pois veste-se uma bata aberta nas costas, que fica livre para o tratamento- não é de camisola interior à frente de toda a gente, homens e mulheres.



Arrependi-me de ter deitado a carta fora. De qualquer maneira talvez ainda vá a tempo de alertar alguém que me leia e assim não se surpreender com os tratamentos na Av da República- não vá ter de subir de guindaste, no futuro, para não perturbar os vizinhos...






1 comentário:

  1. Mas que grande historial! Quase dava um mestrado em quedas! Tens razão,claro, quando dizes que as infiltrações podem trazer efeitos secundários, mas, por vezes, é a única forma de resolver o problema. Ninguém pode andar a fazer fisioterapia a vida toda!É isso ou uma cirurgia para remover as bursites e quejandos!
    Essa "aventura" na Av.da República é realmente um horror!
    Da próxima vez que estiveres em Lisboa, tenta um consultório na Av. 5 de Outubro. Um nosso colega esteve lá a fazer tratamentos num braço e recomenda vivamente!
    Beijinhos e as tuas melhoras

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